Femen

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ônibus lotado, um relato.

Ontem, 11/12/13, pra alguns um dia quase místico, mas para mim, simples moradora do Estado do Rio de Janeiro, assalariada e que depende de transporte público para chegar ao trabalho, foi um dia de caos. É só abrir qualquer página do google referente aos estragos que a chuva causou no Rio e ver exatamente do que estou falando. Mas não é exatamente dos assuntos referentes a falta de estrutura, transporte público, investimentos diversos desse Estado que estou escrevendo este texto, é pra contar uma experiência que vivenciei ontem.
Após duas horas de espera no ponto de ônibus, eis que passa o veículo e para completamente LOTADO e eu, sem opções subo. Era daqueles que a roleta é na frente. Roleta? Mal conseguia enxergá-la. Antes dela haviam uns cinco rapazes espremidos. Como disse, sem opções resolvi subir e me senti um sardinha enlatada. Mas esse não foi o maior problema. Assim que coloquei o pé no primeiro degrau já fui logo ouvindo "Senta no meu colo gostosa que aqui tem espaço pra você". Abaixei os olhos e fiquei ao lado do capô. Os outros rapazes riram e eu constrangida e com nojo tive vontade de descer na mesma hora, mas isso não melhoria a situação e nem faria efeito maior naquele rapaz. E nos próximos pontos de ônibus que se seguiam o motorista resolveu que não ia mais parar pois não havia mais possibilidade de o ônibus ter mais nenhum cidadão dentro dele. Porém sempre que os rapazes (grudados uns nos outros e em mim) avistavam moças nos pontos, colocavam suas bocas para fora da janela e gritavam "Sobe neném, aqui no meu colo você vai leve", "Vem que aqui sempre cabe mais uma", "Fica a pé tribufú, porque pra você o ônibus não parava nem vazio" e por ai vai... Muitas pessoas (inclusive mulheres) riam desses babacas que pareciam estar num espetáculo e justificavam suas barbaridades como sendo o "passa-tempo" e "diversão" para o engarrafamento monstro que enfrentávamos. Eu ali, ao lado e entre eles, sufocando, com vontade de debater, discutir. Mas fiquei ali, coagida, acoada ate enfim conseguir chegar ao meu destino. Acabou que durante o meu dia de ontem inúmeras coisas foram acontecendo e eu acabei me esquecendo de tal fato que nem cheguei a comentar com ninguém. Lembrei-me a pouco e resolvi compartilhá-lo aqui.
E agora pergunto: ATÉ QUANDO? Não somos objetos em exposição. Não somos artigos para compra ou propriedade. RESPEITO a identidade feminina não há. E a fragilidade imposta a nós mulheres muitas vezes nos faz calar, assim como fez a mim, no dia de ontem... E ai vai o machismo nosso de cada dia... E ai vai algumas de nós achando isso normal... E não é nossa culpa assim pensar. Quem ensinará que é errado? Pra refletir...

4 comentários:

  1. Monique... perfeito seu texto! Para refletirmos mesmo! Adorei! bjs

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  2. Mandiba ensinou que:

    "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

    Às vezes, penso que palmadas ajudariam neste aprendizado... Mas a verdade é que não ajudam a ninguém. Sequer ajudariam crianças a aprender...

    Paro e penso que esta revolta, este ódio que sinto em mim, vem de uma angústia muito grande, deste sentimento de ter de ser calar para não ser mais agredida ainda.

    Não me calarei mais. Não posso. Não consigo.

    Se o que vier é construção nossa, então serei terrorista, nos moldes de Mandela, ou como Black Bloc.

    Não posso fazer parte disso e o futuro somos nós. Então sejamos o futuro AGORA.

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  3. É minha intenção, parar de me calar! <3

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